Humor, tecnologia, e o mundo visto pela direita. Um blog definitivamente politicamente incorreto.
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Feminismo
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Antes de mais nada, sejamos bons filhos
A voz do bom senso, vinda de La cigüeña de la torre:
A maioria dos atos de um Papa não são magisteriais. Aonde vai, quem recebe ou cumprimenta, quem nomeia, o que ele come ou bebe, que mitra usa, quantos cardeais nomeia, de que nacionalidade...
Ele pode acertar ou não. E até cabe discordar de qualquer desses atos. Parece que Bento XVI, como bom alemão, gosta de beber uma cerveja de vez em quando. É evidente que os católicos não ficam obrigados a serem amantes da cerveja. Isso, que é trivial, vale também para outros atos mais transcendentes.
Sua viagem a Cuba não agradou a todos os grupos no exílio. Que pensavam que o regime ditatorial de Castro sairia fortalecido. Outros queriam que ele recebesse os dissidentes da ilha ou as vítimas de Marcial Maciel no México. Havia quem exigisse uma condenação pública da ditadura cubana na viagem. E os exemplos podem ser multiplicados. Martini deve ser advertido? Bertone mantido como Secretário de Estado? Lombardi como porta-voz? Viganó como núncio? Nourrichard como Bispo de Evreux? Nicolás como Prepósito Geral da Companhia de Jesus?
Seria uma lista interminável. Todos, inclusive eu, governaríamos a Igreja muito melhor do que o Papa. E não só melhor do que este Papa mas do que todos os papas.
Mas isso não seria a Igreja e sim um balaio de gatos. O Papa pode se equivocar em muitas coisas. Ou em algumas. Mas nele reside o ministério petrino e não em qualquer católico. Seja da tendência que for. Cabe também pensar que toma decisões com mais conhecimento de causa do que imaginamos. Não porque seja mais inteligente do que qualquer um de nós, mas porque tem muitas mais fontes de informação. E busca o bem da Igreja universal por cima da nossa tacanha visão paroquial.
É óbvio que o Papa quer liberdade para os cubanos e para a Igreja em Cuba. E pensou, o que considero acertado, ainda que alguns exilados pensem de forma diferente, que sua viagem favorecia essa liberdade. E o fez como pôde e como deixaram que fizesse. Não recebeu os dissidentes, mas repetidamente pediu uma maior liberdade e até mencionou os prisioneiros. Não condenou o castrismo mas se disse várias vezes a favor da abertura, da reconciliação e de um amanhã mais livre. Que alguns desejariam uma maior contundência? Muito provavelmente teria significado um amanhã pior para os cubanos da ilha e para a Igreja.
E isto, tão local e tão concreto, vale para tudo. Não significa que você não pode pensar, e expressar, que uma nomeação episcopal foi uma desgraça, que um cardeal já deveria ter sido aposentado ou que seria necessária uma maior firmeza com a Igreja austríaca. Com respeito, considerando também que o Papa talvez pense o mesmo e esteja aguardando o momento certo, considerando todos os prós e contras, e, acima de tudo, do ponto de vista do amor.
Os católicos têm que amar o vigário de Cristo. Embora às vezes achemos que ele se equivocou ou fizeram com que se equivocasse. Vendo as multidões que no México e em Cuba expressavam seu afeto e seu entusiasmo, me pareciam muito mais Igreja do que aquele que constantemente cita a reunião de Assis para convencer-nos de como é ruim esse Papa. E isso dito por quem acredita que o primeiro Assis foi uma infelicidade. Quanto ao segundo não tenho nada a objetar.
Cristãos mornos serão vomitados
A maioria dos cristãos, ao menos em algum período de sua vida, se conforma em viver uma fé medíocre, mesquinha, que pouco colabora para testemunhar a glória de Cristo ao mundo. Tocam suas vidinhas preocupados somente com seus umbiguinhos, com seus estudinhos, com o seu amorzinho, com o seu trabalhinho, com os seus parentinhos, e permanecem surdos ao grito dos que sofrem.
Esse tipo de fiel pode até ser um católico devoto e praticante, mas que, no fundo, está sempre buscando a felicidade por meio de conquistas materiais, enquanto que a fé e a caridade ficam em segundo plano. Uma vez ao ano – e olhe lá – participa de alguma ação solidária, tipo “Natal sem Fome”, sente que já fez a sua parte e fica muito satisfeito com isso.
Por isso, sempre que alguém se candidatava a ser Seu discípulo, em vez de reagir com palavras doces e animadoras, Jesus colocava o sujeito na pressão. Era uma forma de espantar os bunda-moles, afinal, ser cristão é pauleira. Vejam este trecho do Evangelho de Lucas:
Enquanto caminhavam, um homem lhe disse: Senhor, seguir-te-ei para onde quer que vás. Jesus replicou-lhe: As raposas têm covas e as aves do céu, ninhos, mas o Filho do Homem não tem onde reclinar a cabeça.
A outro disse: Segue-me. Mas ele pediu: Senhor, permite-me ir primeiro enterrar meu pai. Mas Jesus disse-lhe: Deixa que os mortos enterrem seus mortos; tu, porém, vai e anuncia o Reino de Deus.
Um outro ainda lhe falou: Senhor, seguir-te-ei, mas permite primeiro que me despeça dos que estão em casa. Mas Jesus disse-lhe: Aquele que põe a mão no arado e olha para trás, não é apto para o Reino de Deus. (Lc 9, 57-62)
Simpático o Mestre, não? Dá pra notar que Seu “esquema” de recrutamento priorizava a qualidade, e não a quantidade. Ele não fazia como muitos padres e catequistas por aí, que só contam histórias bonitinhas e meias verdades para não contrariar nem constranger ninguém (santa covardia, Batman!). Jesus não temia a liberdade humana: “Eu sou o Senhor. Prometo te dar uma vida cem vezes mais plena do que a que você tem hoje, cheia de beleza e de sentido. Mas, ó, tu vai penar um bocado, vão pegar no teu pé por causa de Mim. Vai querer ou não vai? Se não gostou, a porta da rua é a serventia da casa!”.
O Cristo não dava colher de chá nem para aqueles que o seguiam desde o início. Falava umas coisas esquisitas de propósito, para chocar mesmo. Se o cara continuasse ao lado dEle mesmo depois de ouvir aquelas coisas, era porque O amava de verdade. Foi assim quando Ele disse que só entraria no Céu quem comesse Sua carne e bebesse o Seu sangue. A multidão, que antes O seguia com entusiasmo, gritou “ECA!!!” e saiu correndo. Quanto aos poucos discípulos que restaram, Ele os colocou contra a parede:
“Vós também vos quereis ir embora?”.
Simão Pedro respondeu: “Para quem iremos, Senhor? Tu tens palavras de vida eterna.”. (João 6, 67-68)
Esse é o nosso Mestre, no melhor estilo Capitão Nascimento: “Só terá a vida eterna quem comer minha carne e beber o meu sangue. Tá com nojinho? Pede pra sair!”. Quanta diferença em relação aos evangelizadores mamão-com-açúcar de hoje…
Por falar em nojinho, de arrepiar mesmo é a passagem do Apocalipse que ordena que os cristãos a saiam de vez da mediocridade, enquanto é tempo:
Quem tiver ouvidos, ouça o que o Espírito diz às igrejas. (…) Conheço as tuas obras: não és nem frio nem quente. Oxalá fosses frio ou quente! Mas, como és morno, nem frio nem quente, vou vomitar-te.
Pois dizes: Sou rico, faço bons negócios, de nada necessito – e não sabes que és infeliz, miserável, pobre, cego e nu. Aconselho-te que compres de mim ouro provado ao fogo, para ficares rico; roupas alvas para te vestires, a fim de que não apareça a vergonha de tua nudez; e um colírio para ungir os olhos, de modo que possas ver claro.
Eu repreendo e castigo aqueles que amo. Reanima, pois, o teu zelo e arrepende-te. (Apo 3, 13-22)
Para quem quiser refletir melhor sobre o tema, vale a pena comprar um bom livro sobre a vida de São Vicente de Paulo. Ele, que se tornou padre antes dos 20 anos, só pensava em ter uma boa vida e arrumar um dimdim para ajudar a sua família. De fato, não era um cara mau, era até gente boa, mas estava longe de ser santo. Depois de muito se lascar (“castigo aqueles que amo”), se deu conta de que ser sacerdote era muito mais do que fazer um sermão aqui e acolá e correr atrás de conforto e prestígio: era tornar presente o amor de Cristo aos pobres e sofredores. E, assim, ele passou de padre bunda-mole e caçador de benefícios a um dos maiores santos que o mundo já viu.
Que São Vicente de Paulo nos ajude a ter um coração granPublicar postagemde, fiel e indomável como o dele!
Via: O Catequista
segunda-feira
O Rainbow Warrior e os novos olhos do império
(Este artigo nasceu de um debate sobre este outro aqui ).
O Rainbow Warrior, famoso navio do Greenpeace, agora em águas brasileiras
De fato, nada na presença do navio Rainbow Warrior em terras brasileiras – ou no discurso ecológico europeu que a sustenta - é realmente novo sob o sol. Sua origem, contudo, não está nas conquistas europeias do século XVI e XVII, mas num movimento um pouco mais tardio.
Notem que não se trata, aqui, de um exercício de nacionalismo exacerbado. É muito mais uma questão de conhecer a origem das coisas para não se cair em cantos de sereias que são mais velhos que a própria crença em sereias.
O que hoje é ecologia, ontem foi ciência aparentemente – e apenas aparentemente - desprovida de qualquer interesse financeiro. O que hoje nos é apresentado como preocupação desinteressada pela preservação do planeta, ontem se apresentava como deslumbramento puro pelo nascimento de uma ciência universal.
Desde o início do século XVIII, ao sabor de um discurso cientifico, África e América se tornaram alvos de um novo tipo de investida europeia, que pretendia descobrir novas fontes de matéria prima para a emergente demanda industrial.
Em uma das melhores obras que conheço sobre o tema, “Os olhos do Império: viagens de transculturação”, Mary Louise Pratt dá nome a este novo impulso ideológico, de caráter científico, que legitimou ação europeia dos séculos XVIII e XIX sobre zonas coloniais: “anti-conquista”.
Este novo discurso se contrapôs ao antigo sistema absolutista de conquista e libertou o imaginário europeu do caráter predatório e violento dos primeiros conquistadores para conferir às novas expedições um aspecto de inocente interesse científico.
Para Pratt, dois acontecimentos, ambos ocorridos em 1735, exerceram especial influência nesta ruptura cultural: a expedição La Condamine - primeira expedição científica à América hispânica, que pretendia definir o formato da Terra - e a publicação de O Sistema da Natureza, do naturalista Carl Linné.
Embora tenha fracassado em seu objetivo principal – seus integrantes permaneceram perdidos ao longo de uma década na selva americana - La Condamine resultou em uma série de relatos que popularizaram um novo personagem no cenário da colonização europeia: o cientista. Já a Linné, cujo sistema permitiu classificar todas as plantas existentes no planeta, coube o papel de transformar as zonas coloniais em espaços de trabalho científico.
Muito rapidamente, o sistema de Linné foi transposto para as demais áreas da ciência e, no embalo de novas expedições, financiadas por recém-nascidas sociedades científicas, a Europa ingressou numa febre de catalogação – que começa com proliferação das coleções particulares e culmina nos museus de História Natural.
Nos bastidores, porém, explica Mary Louise Pratt, o que de fato acontecia era uma associação entre interesses comerciais e científicos: estudantes de Linné eram patrocinados por companhias de comércio ultramarino e membros de expedições promovidas por sociedades científicas europeias eram orientados, secretamente, a observarem fontes de matéria-prima e oportunidades comerciais.
Então, uma nobreza de intenções camuflava o fato de que espécimes de flora e fauna, segredos de geografia e dados geológicos importantes eram catalogados para futura exploração mercantil. Da mesma forma que, hoje, o discurso ecológico abre as portas de nossa biosfera para toda sorte de ONGs sem que suas reais intenções sejam realmente conhecidas.
Se não houve “almoço grátis” para os estudantes de Linné, é preciso ser inocente ao extremo para acreditar que o há, agora, para os integrantes de organizações que dizem estar aqui para defender aquilo que não lhes pertence. Não enxergar este ambientalismo europeu que nos quer tutelar como o que ele, de fato, é – uma versão pós-moderna do neocolonialismo - significa colocar-se na posição da vítima que se deixa vitimizar repetidamente. É incorporar a insanidade como Einstein a descreveu: repetir determinada atitude na expectativa de que o resultado seja diferente.
Ter em mente que, para além do amor ao planeta, interesses menos nobres podem financiar tais ações é uma obrigação nacional que, com raras exceções, não é levada a sério por qualquer instância de poder: governo, justiça e imprensa vêm engolindo o discurso do “bom ecologista” tal qual europeus e americanos dos séculos XVIII e XIX haviam engolido o discurso do “bom cientista”.
A ausência de qualquer resistência a esta pauta ecológica - e sua consequente força hegemônica junto à opinião pública nacional – ajudam a entender o fenômeno Marina Silva. Mesmo sem qualquer proposta concreta para pontos prioritários da agenda eleitoral – saúde e segurança – Marina Silva conquistou 20 milhões de votos na última corrida presidencial carregando, tão somente, o discurso da preservação de recursos naturais. Nem mesmo uma denúncia de extração ilegal de mogno a avizinhar-se de seu círculo familiar foi capaz de abalar a imagem de protetora da natureza. O fato é que, temerosos de macular tal imagem, quase beatificada, erigida com o apoio do ambientalismo europeu, imprensa e adversários evitaram erguer o véu para revelar os interesses internacionais sob o mito.
Finalmente, retornamos à Mary Louise Pratt para observar que a retórica derivada das explorações científicas dos séculos XVIII e XIX, era, sobretudo, “um discurso urbano sobre mundos não urbanos, um discurso burguês e letrado sobre mundos não letrados e rurais”, que acabava qualificando qualquer formação social que fugisse aos moldes europeus – em especial, àquelas preocupadas, prioritariamente, com sua subsistência - como atrasada, infantil e incapaz de gerir seus próprios recursos. O que, em tese última, legitimava uma intervenção europeia.
Qualquer semelhança com o discurso ecológico que o chamado mundo desenvolvido, suas ONGs e seus representantes nacionais hoje nos impõem, portanto, não é mera coincidência – e muito menos novo. O que o Rainbow Warrior e o Greenpace nos dizem, tal qual nos diziam os relatos científicos de outrora, é que somos incapazes de cuidar dos nossos próprios recursos. Mensagem, aliás, replicada por todas as organizações internacionais que querem interferir sobre o modo como desmatamos, plantamos ou usamos nossos recursos hídricos.
Via: Nariz Gelado
Marcadores:
Ambientalismo,
ONGS
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