quinta-feira

O Pensamento Conservador em Linhas Gerais

“A grande linha de demarcação na política moderna não é a divisão entre progressistas e totalitários. Não, de um lado da linha estão todos os homens e mulheres que imaginam que a ordem temporal é a única ordem e que as necessidades materiais são as únicas necessidades e que eles podem fazer o que quiserem do patrimônio da humanidade. De outro lado da linha estão todas as pessoas que reconhecem uma ordem moral duradoura no universo, uma natureza humana constante e deveres transcendentes para com a ordem espiritual e a ordem temporal”. Eric Voegelin
               
O conservadorismo não possui uma doutrina, e nem tem um Das Kapital que lhe sirva de balizamento doutrinário. O Conservadorismo não é uma religião, não é uma filosofia. Antes de explicar o pensamento conservador, penso que seja útil olharmos para o começo do século XX, muito embora o pensamento conservador seja muito anterior a isso.
No final do século XIX, Karl Marx previu que haveria um conflito pan-europeu, uma grande guerra envolvendo toda a Europa, o que não fazia dele um grande vidente, levando-se em conta a grande panela de pressão em que o continente europeu havia se transformado. Marx previu também que neste conflito os trabalhadores revoltados pegariam em armas contra os seus patrões implantando assim o comunismo em toda a Europa. Como sabemos, o conflito que chamamos de Primeira Guerra Mundial realmente eclodiu. Entretanto, para horror dos marxistas, os trabalhadores tomaram armas e combateram outros trabalhadores de outros países.
                Com o fim da guerra, a revolução comunista só aconteceu na Rússia, tendo sido sufocada em outros países como na Alemanha e na Hungria, por isso o comunismo entrou em crise e passou a se perguntar: Por que a realidade não era consonante com a Teoria? O que impediu os trabalhadores de se revoltarem?
A resposta para estas perguntas foi encontrada por dois filósofos, o Italiano Antonio Gramsci e o Húngaro Georg Lukács, que chegaram à conclusão de que o comunismo não teve sucesso no ocidente graças a seus três pilares: o direito romano, a filosofia grega e a moral judaico-cristã. Portanto, diferente de toda a metodologia científica, os dois chegaram à  conclusão de que se a teoria e a realidade não eram consonantes , pior para a realidade. Era preciso reformular a realidade. Este processo deu início a uma lenta e gradual subversão de valores que hoje conhecemos como marxismo cultural.
Bem, já havíamos definido o que não é conservadorismo, mas a breve e incompleta análise histórica acima nos dá pistas do que é, de fato, o pensamento conservador. O que Gramsci e Lukács chamam de pilares da sociedade ocidental, são também os pilares do pensamento conservador: o direito, a filosofia e a moral judaico-cristã.
Tendo exposto os pilares do pensamento conservador, fica mais fácil criarmos uma definição mais abrangente que tomo emprestada do filósofo brasileiro Olavo de Carvalho: “O Conservadorismo é a arte de expandir e fortalecer a aplicação dos princípios morais e humanitários tradicionais por meio dos recursos formidáveis criados pela economia de mercado. O conservadorismo é a civilização judaico-cristã elevada à potência da grande economia capitalista consolidada em Estado de direito”.  
Dada a definição, cabe uma explicação sobre uma confusão que se torna cada vez mais comum. Como o Conservador acredita na economia de mercado, ele é comumente confundido com o Liberal. Ora, o Liberalismo, como pensamento, começa no século XVIII, ou seja, é posterior ao Pensamento Conservador. Além disso, o Liberalismo é a firme decisão de submeter tudo aos critérios do mercado, inclusive os valores morais e humanitários, dos quais o Conservador não abre mão.
Definido o Pensamento Conservador, é preciso agora definir os seus princípios. Aproveito uma tradução feita pelo Pe. Paulo Ricardo de Azevedo Júnior dos dez Princípios conservadores de Russell Kirk:


§  Primeiro, um conservador crê que existe uma ordem moral duradoura;
§  Segundo, o conservador adere ao costume, à convenção e à continuidade;
§  Terceiro, os conservadores acreditam no que se poderia chamar de princípio do preestabelecimento;
§  Quarto, os conservadores são guiados pelo princípio da prudência;
§  Quinto, os conservadores prestam atenção no princípio da variedade;
§  Sexto, os conservadores são refreados pelo princípio da imperfectibilidade;
§  Sétimo, os conservadores estão convencidos que liberdade e propriedade estão intimamente ligadas;
§  Oitavo, os conservadores promovem comunidades voluntárias, assim como se opõem ao coletivismo involuntário;
§  Nono, o conservador percebe a necessidade de uma prudente contenção do poder e das paixões humanas;
§  Décimo, o pensador conservador compreende que a estabilidade e a mudança devem ser reconhecidas e reconciliadas em uma sociedade robusta.

Podemos dizer que o Conservador é alguém que não acredita em soluções prontas e que não é o mensageiro de um futuro próspero e luminoso. Aliás, o conservador não acredita que haja alguém, político ou não, que seja capaz de resolver todos os entraves do mundo a fim de criar uma sociedade ideal, bastando apenas que lhe entreguemos o poder por meio do voto ou através de revoluções, até por que o Conservador acredita que nenhum ser humano tem a percepção total da natureza humana nem da realidade objetiva. Para um conservador, os problemas são resolvidos cuidadosamente e de forma gradual, sem milagres. Os conservadores também entendem que, assim como remédios podem causar efeitos colaterais, soluções trazem novos problemas que precisarão ser trabalhados. O Conservador acredita em Deus, mas sabe que ele não é Deus.

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