quinta-feira

Falar errado para não ficar com fama de bicha!

 

http://images.huffingtonpost.com/2009-03-01-duncecap.jpgHá pouco, doutora Vera Masagão Ribeiro, coordenadora da ONG Educa Ativa, organização que é responsável pedagógica pelo livro “Por Uma Vida Melhor” — que não é de aconselhamento matrimonial, mas de língua portuguesa — concedia uma entrevista à rádio CBN. Tio Rei é ligadão, hehe… Sempre com um olho no peixe e outro no gato. Disse coisas espantosas, assustadoras mesmo. Tentando justificar as barbaridades contidas em seu livro — entre elas, afirma que o estudante deve dominar as normas culta e inculta da língua e escolher a mais adequada; logo, o erro pode ser melhor do que o acerto a depender do caso —, disse que, muitas vezes, existe um preconceito sexista contra a norma. E citou caso de estudantes que lhe teriam confessado que, caso falem corretamente nas comunidades onde moram, ficarão com fama de “homoafetivos” — ou “veados”, como se diria nessas áreas preconceituosas…
Ah, bom! Então agora entendo melhor o propósito do livro. Eu até havia escrito, com alguma ironia, que o combate de seu livro à norma culta era o correspondente lingüístico ao combate à heteronormatividade. Mas vejo agora que é o contrário! O livro “Por Uma vida Melhor”, na verdade, busca deixar mais confortáveis os jovens heterossexuais. Assim, a heterodoxia gramatical de Heloísa Ramos daria um suporte acadêmico para a heteronormatividade, e a gramática é que estaria, assim, mais próxima da coisa homoafetiva, pelo menos nas tais comunidades populares, né?
No Globo Online, Heloísa teve um chilique. Reclamou que todo mundo dá pitaco em educação. Afirmou que isso é coisa para especialistas… Ah, bom!  A autora fica macaqueando a suposta língua do povo para demonstrar o respeito que teria pela cultura e pela verdade populares, mas, quando contestada, sobe na torre de marfim e grita: “Não me toquem! Eu sou especialista!”.
Conhece, professora Heloísa, a expressão bem popular “Uma Ova!”? Então… Uma ova! Vai ter de se explicar, sim! Eu continuo esperando que a valente me diga em que situação o erro é mais adequado do que o acerto. Seu livro sustenta essa possibilidade. Segundo a outra defensora do livro, na entrevista concedida à CBN, só há uma: cumpre falar errado para não ficar com fama de bicha!
Não é impressionante que a gente tenha de debater uma questão como essa no Brasil?
Por Reinaldo Azevedo

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