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Machado de Assis era branco ou negro?

Machado de Assis era branco ou negro? Um polêmico comercial levantou de novo a questão. A primeira versão do comercial, com um branco de aparência claramente européia no papel do escritor, foi duramente criticada por muitos espectadores, que acusaram o comercial de "racista", já que Machado era mulato.

Em seguida, o governo brasileiro entrou em ação mais uma vez (parece que a especialidade do governo Dilma é a propaganda!). Sob pressão do público e da Secretaria da Igualdade Racial, o comercial foi retirado e substituído por um outro em que o velho Machadão é interpretado por um ator mais escuro do que o Muçum. Se foi um erro colocar Machado no comercial como caucasiano, também acho que o segundo ator foi uma escolha equivocada, que acentua demais a cor da pele. Era tão difícil encontrar um mulato claro que atuasse decentemente?  

Confesso: na escola, para mim, Machado sempre tinha sido "branco", ou, ao menos, ninguém tinha chamado a atenção para a sua composição racial. Essa moda começou bem depois, quando eu já estava na universidade e o "politicamente correto" funcionava a todo vapor. Era então necessário chamar a atenção para a raça dos escritores, talvez até mais do que para a sua literatura. (Pergunto-me se algum desses críticos leu algum livro do Machado. Será que a própria secretária de inclusão racial já o leu?)

Machado de Assis era português por parte da mãe (50% branco), e seu pai era pelo menos metade branco, se não mais. Digamos que fosse meio-meio, o que daria 25% para Machado de Assis. Portanto, Machado de Assis era ao menos 75% branco, talvez um pouco mais, talvez um pouco menos, já que não sabemos muito sobre o seu pai. Isso importa? Provavelmente não. Gênio é gênio e é raro em qualquer raça ou país. Abaixo está a foto de Machado de Assis que encontrei na qual ele parece mais "afro". Se não poderia ser confundido com o Pelé, tampouco é europeu.

O curioso é o seguinte: embora a sociedade do período fosse mais "racista", isto é, acreditasse abertamente em diferenças raciais (leiam "Os Sertões", por exemplo, ou Silvio Romero), Machado de Assis chegou ao topo da sociedade de seu tempo. Autodidata e pobre, subiu na vida por seu próprio esforço e tornou-se um homem extremamente bem-sucedido, um intelectual reconhecido e celebrado por todos, podemos mesmo dizer que um membro da elite (ao menos intelectual) do período.

Paradoxalmente, hoje ninguém o faria esquecer que era "negro". Estudaria pelo sistema de cotas ou seria convidado a morar em um quilombo. Talvez, ao invés de escrever romances inspirados no melhor da literatura inglesa e francesa do período, se dedicasse a criar letras de funk e rap (inspirado no que se faz nos EUA, é claro). 

Talvez o verdadeiro problema então seja mesmo a incrível decadência dos ideais e da cultura brasileira (e mundial, pois somos apenas macaquitos copiões). Na época havia outros talentosos escritores mestiços: Lima Barreto, Mario de Andrade, Cruz e Sousa. Hoje, o que temos?

Mesmo se ficarmos na cultura popular, até há poucas décadas tínhamos pessoas como o Cartola, sambista que apesar da baixa instrução escreveu letras sentimentais primorosas (outro exemplo seria o Lupicínio Rodrigues). Hoje? O grande sucesso no Brasil das classes baixas e nem tão baixas é uma canção que, pelo que entendo, se chama "Dou o c* até de cabeça para baixo". Tem inclusive uma dança associada, como se pode ver no vídeo, que ainda celebra a harmonia multiracial políticamente correta, com uma garota branca e outra japonesa realizando a "performance". É o Brasil atual! 

Dentro do seu túmulo, Brás Cubas sorri feliz: "Não tive filhos, não transmiti a nenhuma criatura o legado de nossa miséria!" 


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