segunda-feira

No dia do anúncio da “libertação”, governo líbio diz que sharia será base das leis do país e já declara nula lei do casamento e divórcio. A vida das mulheres será, com certeza, pior! Parabéns, Barack Obama!

http://www.lepanto.com.br/Imagens/Maomere.jpgPois é… O que é que vou fazer? Tenho a péssima mania de chamar as coisas pelo nome. E também passei por um longo processo de descontaminação da praga marxista, aquela que vê a história como uma processo ou uma marcha sempre para a frente, com recuos episódios aqui e ali, mas sem jamais contrariar o que seria o fluxo natural. Trata-se de uma doença do espírito, que cega os homens para a realidade. Aqueles contaminados pelo “método” negam o que é evidente, o que está diante dos seus olhos, em nome de um porvir que endossa a sua teoria.
O governo de transição — do que para quê? — da Líbia anunciou ontem a libertação! O evento aconteceu em Benghazi, que se tornou a cidade-símbolo do levante. Foi ali que tudo começou. O Conselho Nacional de Transição (CNT) é um saco de gatos: reúne todos os que eram contra Muamar Kadafi, incluindo algumas pessoas que serviram ao regime e romperam com ele. E lá também estão jihadistas e religiosos de diversas correntes. Ontem, num artigo sobre a Líbia, escrevi: “Eu considero que o dito ‘imperialismo’, INFELIZMENTE, anda mal das pernas e da cabeça e está emprestando aviões para o radicalismo islâmico que se faz de moderado para… ter o auxílio dos aviões daqueles que um dia tem o sonho de destruir!”
Alguns leitores acharam que exagerei. Pois é. Ontem, no ato que anunciou “a libertação”, algumas horas depois de eu ter escrito o que vai acima, o presidente do Conselho Nacional de Transição (CNT), Mustafá Abdul Jalil, anunciou que a legislação do país será baseada na sharia (lei islâmica): “Como país islâmico, nós adotamos a sharia como lei essencial. E qualquer lei que violar a sharia é legalmente nula”. Ah, bom! E ele até deu um exemplo: “Por exemplo, a lei sobre o divórcio e o casamento (…). Esta lei é contrária à sharia, e ela não está mais em vigor”.
Explica-se. Muamar Kadafi havia proibido a poligamia na Líbia e permitido o divórcio. Mustafá Absdul Jalil, atuando como Executivo, Legislativo, Judiciário e, parece, autoridade religiosa (o CNT está coalhado de extremistas islâmicos), dá um óbvio passo atrás no que diz respeito à condição das mulheres. Em 2005, a Organização Árabe do Trabalho reconheceu, acreditem!, que a Líbia era o país em que havia menos discriminação contra elas. Tinham direito à educação, ao trabalho, a contrair empréstimos, à proteção social — sem qualquer distinção na comparação com os homens. Esse traço de modernidade (Fazer o quê? A palavra essa…) incomodava os conservadores religiosos.
No Egito pós-revolução — não é fácil achar a informação na grande imprensa porque os jornalistas estão passeando entre os girassóis da “Primavera”, mas basta procurar um pouco —, as mulheres já começam a reclamar do crescente preconceito contra a sua participação na vida pública. É aquele país de “libertadores” que queimam igrejas e casas de cristãos…
“A aplicação da sharia não quer dizer necessariamente um governo fundamentalista…” Ok. Vamos ver. Um partido religioso é o provável vitorioso, embora não com maioria absoluta, na eleição na Tunísia, onde as mulheres também gozam de bastante liberdade para os padrões árabes. Eles  prometem uma islamização light, seguindo os passos da Turquia — que sabe fazer direitinho a mímica, só a mímica, da democracia. Ainda voltarei a esse tema.
Colham flores no bosque da mistificação primaveril os que assim desejarem, de olho no “processo”… O que sei é que o anúncio, no primeiro dia da “libertação”, de que a sharia será o fundamento da Constituição do país e que já são nulas as leis que nela não são inspiradas é um péssimo auspício. E veio mais depressa do que eu mesmo imaginava.
Os aviões dos EUA, da França e do Reino Unido fizeram o que o terrorismo jamais teria conseguido: entregar a Líbia ao fundamentalismo islâmico. Parabéns, Barack Hussein Obama! As mulheres  na Líbia já estarão piores amanhã do que estavam antes do início da “Primavera”. Sim, eu sei, alguém dirá: “É o jeito árabe de fazer as coisas e compreender o governo”. Pois é. Não preciso gostar dele, não é?
Não tenho bola de cristal, não! Só presto mais atenção aos fatos do que à minha própria torcida e estou menos ocupado em aplicar um método do que em entender o que de fato está em curso. Em suma, estou sempre pronto a reconhecer a realidade, mesmo quando não gosto dela. Ser Kadafi quem era não tornava seus inimigos flores primaveris que se cheirassem.

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